Mafalda persa


O ataque terrorista às Torres Gêmeas em 2001 gerou uma onda de preconceito e perseguições (em particular nos Estados Unidos) a qualquer pessoa que tivesse pele escura, fosse mulçumana ou tivesse nomes que remetessem aos povos do médio Oriente. Por outro lado, nunca se publicou e leu tanto sobre as culturas e história dos povos que vivem nesta que é uma das áreas mais instáveis e conflituosas do planeta. Esta avalanche de novos autores tem na iraniana Marjani Satrapi uma das suas principais representantes.

Marjane é autora de uma das mais bem-sucedidas auto-biografias em quadrinhos lançadas nos últimos anos. Dentro de uma safra de excelentes artistas (Alison Bechdel, David B., Kazuichi Hanawa, Guy Delisle, Fréderic Boilet, entre outros grandes nomes do universo HQ atual), Marjane Satrapi tem se destacado no mercado editorial. Primeiro por ser uma mulher em um segmento dominado predominantemente por homens. Depois por ser um caso raro de uma artista escrevendo sobre a cultura e história do povo persa...

Persépolis, livro de estréia da escritora e desenhista, tornou-se um best-seller na França (onde a artista vive atualmente) e em outros países, e foi adaptado para o cinema em uma animação que concorreu ao Oscar de 2008.

No livro a autora rememora os fatos mais marcantes da sua vida, que se confundem em diferentes momentos com a própria história recente do Irã. Aos 10 anos ela assistiu à revolução islâmica no seu país e às profundas mudanças culturais e políticas que atingiriam inclusive sua família. Um tio de Marjane, opositor do regime dos Aiatolás, foi assassinado sob ordem dos líderes do novo governo que havia deposto em 1979 o Xá Rezah Pahlave. Em pouco tempo as escolas mistas foram fechadas, o ensino de idiomas estrageiros proibido e as meninas obrigadas a usar véus pretos sobre a cabeça.



Na adolescência, Marjane viu a mãe ser ameaçada por não cobrir a cabeça ao sair à rua (dois homens a agrediram e disseram que mulheres como ela deveriam ser violentadas contra o muro e jogadas no lixo). O pai da autora quase foi preso por usar gravata (símbolo máximo do homem ocidentalizado). E a própria Marjane quase foi retida por "guardiãs da revolução" por usar jaqueta jeans, tênis e bottom de Michael Jackson (que na época ainda era negro).

O estilo contestador de Satrapi rendeu a ela comparações com Mafalda, personagem do argentino Quino. Mas a artista iraniana eleva o espírto rebelde de Mafalda a um nível impensável para a personagem argentina. Marjane investe contra governo, família, escola e a guerra com uma energia própria da adolescência e juventude.

A Guerra com o Iraque que começou em 1980, e durou oito anos, agravou a situação de medo e crise econômica do Irã. O conflito matou 300 mil iraquianos e 400 mil iranianos, devastou os dois países e acabou sem vencedor. Entre os soldados mortos estavam milhares de crianças recrutadas pelos aiatolás. Para iludi-las, foram distribuídas chaves douradas. Elas abririam as portas dos céus para aqueles que morressem lutando pelo país.

Persépolis foi lançado pela Companhia das Letras em dois momentos. No primeiro, antes da indicação ao Oscar, a história foi lançada em quatro volumes. No segundo lançamento, embalado pelo filme, a editora lançaria toda a coleção reunida em um único livro. Uma leitura imperdível. Fonte: Carlos Ely/Blog Nona Arte - http://nonaarte.vox.com

Veja trailer do filme Persépolis




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