Imagens para ler: fotografia, cinema e análises audiovisuais

Ao unir fotografia, cinema e análises audiovisuais, Educador Nota 10 mostra às 7ª e 8ª séries que filmes e vídeos são mais que diversão

MUITO ALÉM DO “XIS”  Rogério fez a moçada do Instituto Efigênia Vidigal refletir sobre sua produção fotográfica. Fotos: Leo Drumond
Atire o primeiro giz quem nunca teve a aula interrompida pelo toque de um celular. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 36% dos estudantes com 10 anos ou mais possuem um telefone móvel. O número é ainda maior em regiões metropolitanas. Na Belo Horizonte do arte-educador Rogério Andrade Bettoni, um em cada dois alunos tem o apetrecho (e, claro, leva para a escola). Analisando a relação dos jovens com o aparelhinho, o professor descobriu uma situação paradoxal: a moçada era supercompetente para baixar músicas, tirar fotos e enviar torpedos, mas conhecia muito pouco sobre a linguagem e a técnica de produção daqueles sons, vídeos e textos.

A situação se repetia com outros meios de comunicação. A maioria não tinha idéia de como se forma uma foto, de que o cinema é uma série de imagens em seqüência ou de que um filme pode ter significados que vão além da história contada, relembra. Enxergando nesse desconhecimento uma oportunidade de intervençãocapaz de fazer todos avançar, Rogério desenvolveu um projeto didático para as turmas de 7ª e 8ª séries do Instituto Efigênia Vidigal, uma instituição particular da capital mineira. A qualidade da iniciativa ultrapassou os muros da escola: com esse trabalho, ele foi um dos vencedores do Prêmio Victor Civita Educador Nota 10 de 2007.

Apreciação e produção
A lista de conteúdos era ambiciosa: na parte teórica, o básico da óptica, noções de história da fotografia e do cinema e conceitos de semiótica (a ciência que estuda o significado de imagens, gestos, objetos e ritos). Na vertente prática, a produção de fotos em preto-e-branco e de animações editadas em computador com base em fotografias tiradas por celular

O pontapé inicial foi a fotografia: cada jovem tirou uma foto que transmitisse uma idéia, concreta ou poética. Mas com uma condição: os alunos teriam de usar apenas uma lata de alumínio com um pequeno furo, algo que simula os primórdios da fotografia. Nessa técnica, conhecida como câmara escura, o orifício na frente da lata funciona como uma lente rudimentar, deixando entrar um pouco de luz no recipiente. A luminosidade, por sua vez, encontra um papel fotográfico feito de grãos de sais de prata. Durante a revelação, os grãos afetados pela luz assumem uma cor entre o branco e o preto a gradação depende da intensidade de luz que atinge cada parte. Depois é ampliar e pronto: nasce a foto.

Mas a moçada só pôs a mão na lata depois de pensar na história e na idéia que gostaria de transmitir um colega em movimento significando a liberdade da juventude, uma panorâmica dos prédios da vizinhança para mostrar a aridez da vida na cidade e assim por diante. Com essa proposta, o professor estimulou seus alunos a formular idéias e a perceber que uma imagem pode possuir diversos significados, diz Marisa Szpigel, selecionadora dos trabalhos de Arte no Prêmio Victor Civita Educador Nota 10.

Visual discutido 
O passo seguinte foi mergulhar na teoria convidando os alunos a assistir ao filme Corra, Lola, Corra, do cineasta alemão Tom Tykwer. Em um relatório, cada jovem analisou o gênero da obra segundo suas características (apesar de ser um longa-metragem, Corra... usa músicas como um videoclipe), seus aspectos técnicos (cenas gravadas com câmeras caseiras, por exemplo) e seus significados (transmitir idéias como pressa e improviso, discutir questões sobre a percepção do tempo). O mesmo roteiro pode ser seguido na análise de um videoclipe, por exemplo. Para que a turma pusesse em prática os novos conceitos, Rogério escolheu uma técnica de criação de vídeos chamada stop motion em inglês, algo como movimento parado, em alusão às fotografias estáticas que, colocadas em seqüên- cia, dão a impressão de estarem se mexendo. Utilizado nas animações A Fuga das Galinhas e A Noiva Cadáver, esse recurso permite que qualquer pessoa com máquina fotográfica, computador e programa de edição (o mais comum é o Movie Maker, que vem no Windows) construa o próprio filme. Todos os grupos tiveram de pensar num vídeo de 30 segundos. Para cada segundo produzido, os estudantes tiraram cerca de dez fotografias nas produções profissionais, são 24. Mais que o produto final, o que empolgou Rogério foi a mudança na relação dos jovens com a mídia. Notei, por exemplo, que as ferramentas que eles utilizavam para assistir a vídeos na internet, como o YouTube, começaram a servir também como fonte de pesquisa para referências de cinema e vídeo. E que o celular, finalmente, virou mais que uma campainha para interromper a aula, brinca o professor. 

Quem é Rogério

Rogério Andrade Bettoni tem 30 anos e nasceu em Barbacena, a 165 quilômetros de Belo Horizonte. Cursou História e Processamento de Dados, mas não terminou nenhum dos dois cursos. Concluiu a graduação em Filosofia em 2001 e no ano seguinte começou a lecionar numa escola pública da capital mineira. Cheguei a trabalhar como DJ, mas abandonei as pistas de dança porque a música me tomava muito tempo. Especializado em tradução de textos, Rogério já verteu 14 livros do inglês para o português. Em 2006, combinou a atividade com as aulas de Arte no Instituto Efigênia Vidigal. O início na escola não poderia ter sido melhor: seu primeiro projeto foi um dos vencedores do Prêmio Victor Civita.

Fonte: Revista Nova Escola/ Anderson Moço

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